Visita à Escola da Ponte

“Os nossos alunos aprendem a ler em dois a seis meses”


Ao ouvir esta afirmação de José Pacheco, num vídeo, na ESE de Viseu, durante uma reunião de acompanhamento para preparação da sessão sobre Consciência fonológica, senti-me aguilhoado e corei!
Naquela ocasião foram várias as questões que assaltaram o nosso pensamento e muito poucas as respostas. Pensámos que uma visita à Escola da Ponte poderia ser esclarecedora e ajudar-nos a compreender melhor este “milagre”!
22 de Abril foi o dia marcado para a visita onde participaram os formadores residentes do núcleo o PNEP da ESE de Viseu.



A Visita

A escola que visitámos foi a primeira a celebrar com o Ministério da Educação um contrato de autonomia. Encontra-se instalada num edifico de área aberta, tipo P3, já com trinta anos de idade ao qual se encontra agregado um pavilhão pré-fabricado.

A visita foi orientada por dois alunos. Quando lhes perguntamos em que ano andavam não nos conseguiram responder. Sentia que estávamos a entrar num mundo diferente… De facto, nesta escola, os anos de escolaridade apenas preocupam aqueles que têm de preencher os mapas que o Ministério da Educação nos vai pedindo com regularidade. Os alunos estão organizados em três núcleos: o núcleo de iniciação que engloba os alunos do 1º, 2º e 3º anos de escolaridade, o núcleo de consolidação que agrupa os alunos do 4º, 5º e 6º anos de escolaridade e o núcleo de aprofundamento que agrega os restantes, até ao nono ano de escolaridade. Passar de um núcleo para o seguinte não está dependente do final do ano lectivo mas da evolução de cada um.
Em vez da mono docência em que se organizam as turmas do primeiro ciclo, os professores são organizados por tutorias, sendo responsáveis por grupos de seis a oito alunos. Monitorizam o seu trabalho individual, reunindo com eles semanalmente e mantendo um contacto mais próximo com os encarregados de educação. Mas os alunos não recorrem apenas a este professor e podem valer-se de todos os professores da escola, conforme a dimensão do conhecimento que estejam, a trabalhar: linguística, lógico-matemática, naturalista, artística…
Trata-se de uma forma de ensinar completamente distinta daquela a que as escolas portuguesas nos habituaram. Os alunos participam activamente na vida da escola, definido em assembleia os direitos e deveres.
Não existem salas de aula com portas fechadas e os alunos circulam livremente pelos espaços de trabalho onde lhes são propostos desafios diversos: linguísticos, matemáticos, científicos… Em todos estes espaços de trabalho encontramos afixadas as folhinhas de registo: “Eu Já Sei”, “Preciso de Ajuda”, “Pesquiso em Casa”… ou o texto da quinzena, o problema da quinzena…
Apercebemo-nos facilmente que o nível de autonomia daqueles alunos. A sua predisposição para a pesquisa e busca do conhecimento, dentro da organização que é imprimida à escola, são absolutamente extraordinárias.

O Ensino da Leitura e da Escrita

É difícil formar uma opinião sobre o funcionamento da escola após uma visita de uma tarde. O que é certo é que esta estadia na Vila das Aves foi para mim marcante do ponto de vista pedagógico. Senti que o ensino estava mais centrado no aluno enquanto ser único e irrepetível.

No que se refere à aprendizagem da leitura e da escrita, o grande segredo deve estar no facto deste ser orientado por professores especializados neste domínio, pouco preocupados em implementar rigorosamente determinado método de ensino mas com capacidade de adaptarem estratégias às características de cada aluno e às suas necessidades, centrando a aprendizagem na relação com a criança.