III Encontro Nacional do PNEP




Decorreu em Lisboa, entre 29 e 30 de Abril, o III Encontro Nacional de Formação do PNEP. O Núcleo de Viseu esteve representado pelo seu coordenador institucional, pelos formadores residentes da turma B3 (todos) e B12 (3 formandas).
Foram dois dias destinados à apresentação e debate de temas que marcarão o ensino do português, no nosso país, nos próximos anos lectivos. Permitiram ainda uma útil reflexão sobre práticas educativas.



O novo acordo ortográfico que deverá ter aplicação nas escolas até 2012 foi o tema que ocupou o primeiro dia de trabalhos (implementação plena em 2014). No período da manhã o Prof. Ivo de Castro, da Faculdade de Letras de Lisboa, dinamizou uma conferência sobre o tema e, no período da tarde, decorreram oficinas dinamizadas por coordenadores de núcleo.


O Acordo Ortográfico – Prof. Ivo de Castro

Num tempo em que a implementação do acordo ortográfico é já um dado adquirido, o Prof. Ivo de Castro referiu-se aos movimentos de contestação e à necessidade de criar bases sólidas que garantam a sua aplicabilidade em todos os países de língua portuguesa. Neste momento a aplicação do acordo é já uma inevitabilidade pelo que é incontornável a sua implementação e uso nas escolas.
É indiscutível que o português europeu não possui norma fonética e não existe consenso quanto à chamada pronúncia culta da língua. A variedade fonética padrão, mais aceite é a da televisão que chega com enorme facilidade a toda a população. A escola é a única instituição que pode rivalizar com os meios de comunicação social, enquanto reguladora da pronúncia mais erudita da língua. Existe no entanto uma norma ortográfica que pelo seu carácter rígido necessita de adaptações pontuais ao longo dos tempos. Encontramo-nos num desses momentos. O acordo ortográfico pretende trazer legitimação (não unificação) à escrita existindo diferenças gráficas que irão continuar a existir.
O Professor Ivo de Castro apresentou uma interessante perspectiva histórica da ortografia do português.
séc. XIII
Verifica-se uma tentativa de aproximação entre a escrita e a maneira de falar.
séc. XVI
Com a imprensa e a produção de textos escritos em massa houve necessidade de criar uma norma ortográfica que levou a ortografia a regressar tendencialmente à forma latina, escrevendo-se apenas para efeitos gráficos. Os problemas surgiriam com a aprendizagem da leitura em que apareciam formas gráficas que não tinham correspondência na oralidade. Aí a ortografia influenciou a forma de pronunciar certas palavras.
séc. XIX
Havendo cada vez mais pessoas a escrever, verifica-se uma tentativa de aproximação entre a ortografia e a foram como as pessoas falam. Houve tentativas para criar uma ortografia fonética.
séc. XX
Decretou-se uma norma ortográfica, só em Portugal, esquecendo as propostas brasileiras. Várias tentativas de acordo se seguiriam!
1943 - Acordo que ainda se encontra vigente no Brasil.
1945 - Acordo vigente em Portugal que ”visava, através de uma absoluta unificação ortográfica, a reunificação da língua portuguesa nas suas componentes gramaticais, lexicais e até mesmo fonológicas”.
1973 - Mini-acordo vigente em Portugal.
1986 – Acordo abandonado por ser uma tentativa inviável de unificação.
1988 – Acordo abandonado.
1990 – Acordo aprovado, assinado, esquecido e recordado em 2002. Assenta na consciência de que é impossível a reunificação das diversas variantes da língua portuguesa. Prevê facultatividade legitimando grafias duplas.
Esta arbitrariedade, em termos absolutos, dificulta, em sala de aula, as correcções ortográficas, por colidir com qualquer conceito de norma. Por outro lado, esta facultatividade, bem utilizada, pode ter efeitos que engenhosamente o professor pode usar na sala de aula. Porque é que os meninos hão-de escrever todos da mesma maneira se falam de maneiras diferentes? Os ingleses não escrevem todos da mesma maneira e o português não se escreveu sempre da mesma maneira. Os alunos terão de ser educados para aceitar os diferentes registos ortográficos pois a qualquer momento poderão ser confrontados com esses registos, dado que a existência de um novo acordo não implica a eliminação dos registos utilizados até agora ou a destruição das obras até aqui publicadas. A ortografia será mais uma questão de aquiescência do que de imposição.

Esta conferência apresentada pelo Prof. Ivo de Castro ajudou-me a encarar com mais serenidade a reforma que agora vivemos como mais uma na história do português enquanto língua viva e em constante evolução, sem esquecer que o peso da mudança da ortografia vai cair sobre a escola e os professores.








O segundo dia iniciou-se com oficinas temáticas de partilha de práticas e materiais. Os temas destas oficinas foram o conhecimento da língua, a expressão escrita, a leitura e tecnologias e ensino da língua.

O núcleo de Viseu apresentou actividades de escrita nos domínios textual e ortográfico. As primeiras foram planificadas com base no “ciclo da escrita” dando-se alguma ênfase à fase do desempenho de funções enquanto etapa essencial para a motivação e desenvolvimento do gosto pela escrita. A manhã foi pequena para explorar a riqueza das actividades apresentadas. Estou certo que muito haveria anda para aprender!


A tarde foi preenchida com a conferência da Prof. Inês Sim-Sim, Coordenadora Nacional do PNEP que versou sobre “Metas na Aprendizagem da Língua Portuguesa”. A necessidade de definir de metas de aprendizagem surgiu com a implementação de diversos estudos internacionais de aprendizagem que avaliaram desempenho dos alunos. Estas metas “definem aquilo que os alunos devem saber, sem mostrar o caminho para lá chegar”. Permitirão organizar as aprendizagens, avaliar e comparar resultados de forma mais objectiva.




Considero a participação neste encontro uma experiência marcante na minha carreira profissional, tanto pela pertinência dos temas como pela boa organização geral do encontro. Estamos todos de parabéns!
JoãoDuarte


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