“Literatura para a infância e ilustração: uma leitura em diálogo” reflexão sobre a conferência dinamizada por Ana Margarida Ramos


Com o objectivo de divulgar a literatura ou apenas por desígnios comerciais, as editoras têm vindo a lançar um interminável número de obras de literatura infantil cujo elevado nível de qualidade estimula tanto os mais jovens como os próprios adultos. E é preciso ter a noção de que são precisamente os adultos o primeiro “crivo” a que se submetem estas obras literárias, na medida em tanto em casa com nas bibliotecas públicas ou na escola são os adultos quem escolhe e adquire as obras que estarão disponíveis aos mais novos. Esta situação é ainda evidente na escola onde o Ministério da Educação, através do Plano Nacional de Leitura, preceitua obras e estratégias de leitura para cada ano de escolaridade, com o objectivo de criar saudáveis hábitos de leitura e “ler mais”!

Margarida Ramos apresentou nesta conferência os álbuns narrativos. Esta franja editorial é uma das responsáveis pelo aparente sucesso do Plano Nacional de Leitura em Portugal. São livros que apresentam uma relação simbiótica entre o texto e a imagem, privilegiando e os elementos paratextuais como as guardas, a página de rosto, a ficha técnica, a capa, a contracapa… o próprio código de barras, em algumas editoras!
São livro que, por privilegiarem a imagem, podem levar os compradores a considerá-los próprios apenas para crianças que ainda não aprenderam a ler mas que exigem uma capacidade de leitura bastante desenvolvida. Segundo Margarida Ramos, durante a leitura de um álbum narrativo, “o cérebro ilumina-se todo”, sugerindo que essa actividade possa ser representada por uma fórmula matemática muito simples: “texto vezes imagem ao quadrado”!
As estratégias que fomos implementando, durante as sessões de compreensão da leitura, no âmbito das sessões tutoriais, adequam-se como uma luva à leitura dos álbuns, a começar pela antecipação do conteúdo, através da observação da capa e contracapa, o filtrar do texto e das imagens em busca de chaves, a antecipação de conhecimentos anteriores sobre os temas… A capa destes livros, quase sempre criada em articulação directa com a contracapa, oferece normalmente ao leitor indicações relevantes à compreensão da narrativa como os personagens, o título, o tema, o género, o público alvo…
Para ler um álbum não é apenas necessário saber que usamos uma determinada direccionalidade do texto mas estar atento a pormenores menos perceptíveis para quem se habituou ao modelo tradicional de leitura. Assim devemos estar atentos às imagens, articulando-as com o texto (se o houver):
- verificando se confirmam o texto e descobrindo nelas novas informações,
- começando nos grandes planos e descendo aos pormenores,
- procurando nelas relações de conotação, denotação, metafóricas, simbólicas, poéticas…
- relacionando as imagens entre si e procurando nelas linhas de sentido e de orientação,
- interrogando-se sobre as opções de cores, formas, símbolos, códigos culturais, técnicas, estilos…
Tratou-se de uma sessão de grande interesse pedagógico e muito adequada aos desafios impostos à escola através do Plano Nacional de Ensino do Português e do Plano Nacional de Leitura.
JoãoDuarte

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